Realização da Fundação Nilo Pereira em parceria com os maestro Kleber Jonatan e Marcos Machado.
O evento aconteceu na Praça Barão de Ceará-Mirim em dezembro de 2007.
Esperem o vídeo abrir porque vale a pena!
Pedro Simões
AUTOESTIMA – Deveríamos ampliar a nossa justificável meta de auto-valorização. Que ela não se restrinja apenas à nossa individualidade, mas alcance também os valores que compõem a nossa identidade, à nossa personalidade, que nos fazem ser o que somos. Exemplo: temos o hábito de apequenar, senão ridicularizar aquilo que nos cerca – nos...sa cidade, nossa região, e em última escala, o nosso país. O que é fruto da nossa cultura, natalense, potiguar ou nordestina, é desprezível, salvo se reverberar do eixo do sul maravilha ou do exterior.
Lambo os beiços com o hábito dos americanos de se sentirem apenas o máximo por sua nacionalidade. Usar as cores nacionais e a própria bandeira e de gabarem a sua superioridade. Do seu civismo em relação à defesa nacional e à adoção do “american way of life”, sem se preocupar se é ou não politicamente correta a sua opção: ela é americana? Então é boa e me convém.
Fico pensando que tenho dois orgulhos bem próximos de mim: Ceará-Mirim e Natal. A cidadezinha salpicada de verde, azul e amarelo que guarda num relicário a minha infância e juventude. E a capital do meu estado, com as mais belas praias do mundo, um povo cosmopolita e hospitaleiro que nunca perdeu o ar provinciano, marca que deve ser computada como vantagem, já que os “metropolitanos” se tornaram impessoais e robóticos. Um amigo de São Paulo que se mudou para cá me dizia que a vantagem dos potiguares sobre os paulistas, além das evidentes opções de qualidade de vida, era o modo com que nós “familiarizavamos” as personalidades públicas. Que aqui, à moda norte-rio-grandense, ele aprendeu a tratar com pessoas e não com instituições.
À época dizia que falava com “Gueire” (Garibaldi) e não com o governador, por exemplo. Aqui, comprava fiado na mercearia da esquina e recebia em sua casa os passarinhos, os vizinhos e amizades adquiridas instantaneamente. Na sua cidade, morou dez anos num apartamento e nunca se relacionou com o vizinho, a quem apenas cumprimentava no elevador.
Há uma coisa que lugar algum pode superar o nosso: o acervo de memórias e os testemunhos existenciais da nossa vida. E outra coisa: as provas e referências da nossa identidade.
Tenho muito orgulho de ser brasileiro, jamais pensei em ter outra nacionalidade. Cresço com o país – e como já cresci! – e tenho certeza de que os meus netos herdarão uma pátria notável, poderosa e magnânima, comprometida com a justiça social. Orgulho-me de ter dupla cidadania: cearamirinense e natalense, embora mon coeur balance pour Ceará-Mirim. E, finalmente, tenho um orgulho superlativo por ter sido nordestinado. Não recebo essa destinação como fatalidade, mas como benção, pois desde criança me assumi um lutador, aquele que viabiliza a própria sobrevivência tirando leite de pedras.
Tenho autoestima cívica também, não apenas pessoal. Por isso, não me sinto diminuído quando meus filhos e netos, entre zombeteiros e carinhosos, me tratam de “careca”, “gordo” ou “velho”. Porque, além de me saber bem conformado nos padrões individuais de medianos para superiores, sou cearamirinense, norte-rio-grandense, nordestino e brasileiro – nesta ordem. Uma glória.
Rua São José - hoje Manoel Varela - ao longe, a direita - a mangueira centenária de Dona Celina
Mas, falando de seu casarão na rua São José, (casa de Dr. Pedro Simões – era assim que a chamávamos – no tempo que morou por lá um rapaz chamado Aguiar) morei em frente, pelos idos de 1972, e, quando não havia ninguém na casa, pulávamos o muro, e nos deliciava com os suculentos Cajás, e muitas outras frutas que existiam no quintal. O pé de Cajá, para mim, era o mapa do Rio Grande do Norte, muito frondoso. Não lembro se cortaram a árvore, mas, parece que ainda sobrevive a nossa meninice, como a Mangueira Rosa de Dona Celina...firme e poderosa contando nossa história.
São apenas lembranças... Nossas peraltices infanto-juvenis passaram, mas a memória permanece viva pronta para viagens sentimentais e românticas.