segunda-feira, 20 de junho de 2011

AO AMIGO QUE PARTIIU: BARTOLOMEU CORREIA DE MELO



BARTOLA, OS QUE VÃO MORRER TE SAÚDAM. Breve e imperfeita louvação de amigo.

No sábado passado, às 16.30, Bartolomeu Correia de Melo deixou-nos para atender a um chamado do Criador. Estava já no limiar de sua resistência física e moral, de tanto lutar para viver – ele, um guerreiro digno, obstinado e forte. Lutou enquanto pôde. Não que resistisse à fatalidade, pois era um crente nos desígnios de Deus, mas dizia a si mesmo que glorificaria o Pai, preservando, no esforço da superação e da resistência, o bem mais precioso que Dele recebera – a vida.

Nós, seus amigos, acompanhamos a luta desigual, entre o Davi que ele Ra e o Golias das insidiosa s patologias que se alojaram no corpo do guerreiro, e por isso mais valorosa. Entre o hospital e o confinamento doméstico obrigatório, vivia , no entanto, como se nada estivesse acontecendo. Mas não se enganava, nem nos enganava. Queria sorver a vida, que sempre tivera em plenitude, com sofreguidão, até o último instante.

Eu mesmo, um privilegiado, tive a alegria de receber dele uma demonstração de afeto e desprendimento, quando, já cheio de dores, que se agravaram com a descoberta de mais uma agressão à saúde, compareceu com o seu anjo da guarda, Verônica (Vera), a uma sessão da Câmara de Vereadores de Ceará-Mirim, onde apresentei um plano de revitalização e Desenvolvimento da cultura local.

Estávamos ligados por uma série de circunstâncias: éramos cearamirinenses adotivos e elegemos a cidade como a nossa pátria afetiva – compromisso de vida inteira. Por isso ele quis ser sepultado no cemitério de lá, de frente para o vale que nos embriagava desde a infância, uma referência imorredoura. Também quero depositar nele os meus restos de vida física.

Amávamos a literatura e nela encontramos uma maneira de registrar a vida que tivemos, dar o nosso testemunho da mágica e extraordinária realidade que não era visível aos olhos dos que não enxergavam. Uma realidade fantástica, que não se oferecia aos circunstantes preocupados apenas no sobreviver.

Era preciso uma lente extra-sensorial para captá-la e uma linguagem adequada para expressá-la. E Bartola conseguiu esse milagre.

Tornou-se, sem produzir-se, conduzido apenas pela sensibilidade e desejo quase obsessivo de exibir o seu povo – o nosso povo – razão maior das nossas investigações, o maior ficcionista do Rio Grande do Norte e dos maiores contistas do Brasil.

A literatura de Bartola distingue-se das demais, porque ele transcende, nas suas escrituras, a mera construção vocabular, a originalidade forçadamente distintiva, o recurso criativo extraído da fertilidade imaginativa. Diversamente de outros criadores (Guimarães Rosa e Manoel de Barros, por exemplo) ele não criou as expressões que apropriou em sua linguagem literária. Nem as utilizou em exercícios lúdicos.

Ele as recolheu nas andanças pelos caminhos do sertão e do litoral - pois sempre foi um andarilho deslumbrado - no cordel, nos repentes, nas emboladas, nas feiras livres e nas toadas dos brincantes das nossas festas populares.

Aquilo que não ouviu, intuiu, e apenas deu extensão e liberdade à linguagem popular que se escondia no pensamento e no imaginário do nosso povo. Eu lhe disse isso, certa vez e ele ficou matutando, ensimesmado, e de repente deu-se conta de que se tratava, de fato, de uma observação pertinente e me disse: sabe que você está certo? Às vezes me vejo diante de um silêncio mais falador do que todas as falas do mundo. Até de quem bebeu água de chocalho.

Os dois livros de contos que escreveu, “Lugar de Estórias” e Tempo de Estórias”, podem e com certeza serão incluídos em qualquer antologia do conto brasileiro. Nenhuma contribuição à literatura brasileira, especialmente representativa da nossa região, merece tanto destaque quanto esses dois. E não pensem que exagero, ou que aplique sobre a obra a visão de um amigo e admirador.

Também escreveu livros infantis, “O fantasma bufão” e “A roupa da Carimbamba” e um dos seus contos (“Da janela”) foi adaptado para o teatro, numa peça de um só ato.

Não sou crítico literário nem um esteta com tanta erudição que me seja dado o benefício da credibilidade. Entretanto, sou um instigador, um provocador, alguém que não se compraz em estabelecer verdades pessoais, mas em argumentar dialeticamente ou comprovar pela amostragem a verdade que se coaduna com o senso comum.

Leiam os livros de Bartola, e concordem comigo pelas evencias. Releiam, os que já o fizeram, mas desta vez com espírito crítico, analítico, sem preconceitos. Com aquela disponibilidade Gideana que se deixa seduzir, se quiser, ou amaldiçoar, querendo, mas livres para voar.

Miguel Cirilo, um dos maiores poetas que o Rn já (des)conheceu, dizia: “Posso conviver com os anjos e não me converter; com os demônios e não me pervereter”. Que seja assim a abordagem dos neófitos nas Bartolomeicas narativas, ou na releitura dos céticos ou garimpeiros de verdades.

Mas mergulhem no universo de Bartola. Não se postem como Grieco que, à parte o seu valor como crítico literário, ficou conhecido pela negação ao seu próprio ofício: “Não li e não gostei”. Porque há também quem leia e não decodifica o frasead, nem descobre nas entrelinhas.

Devo dizer que o nosso estado, (e o Brasil), perdeu um dos seus mais importantes escritores. Se não pensarmos assim, depois de ter lido ou relido os livros de Bartola, é porque somos preconceituosos, invejosos ou sofremos do complexo de inferioridade de alguns nordestinados. Aprendi que contra fatos não há argumentos.

Li e reli os dois livros, porque apaixonei-me perdidamente à primeira vista e tive que retornar a eles para uma releitura menos emocional, mais depurada, mais isenta. E aí foi que me perdi definitivamente. Passou a ser um amor infinito que, diversamente do descrito por Vinicius, seria infinito porque duraria aternamente.

Perdemos também, os seus amigos, o convívio de uma criatura a um só tempo, afável, dono de uma humanidade que porejava evidente nos gestos mais comuns, e ao mesmo tempo um homem de muito espírito, que transitava com desenvoltura do humor fescenino ao comentário satírico, passando pelas citações e reflexões eruditas.

Só não tínhamos afinidades político-ideológicas. Nesse terreno tínhamos discussões acaloradas. Ele, conservador, eu, socialista. Mas a nossa amizade estabelecia limites. Quando chegávamos às raias dos achincalhes e agressões, transigíamos nas coisas menores que não alcançavam o cerne das nossas idéias, aceita por ambos como um sinal de pacificação, uma trégua.

Cumprimentou-me civilizadamente quando Dilma foi declarada vencedora, mas não resistiu e vaticinou as piores desgraças para o nosso país, nas mãos da “camarilha” comunista. Era assim o Bartola, carne, ossos e emoções afloradas. Ele era ele, sem receio de ser o que Ra. Autêntico.

Esgotei as possibilidades de caracterizar o Bartola que muitas vezes tomei como personagem, quando o perfilei no meu livro “A Intriga do Bem”, onde o dava como anjo-torto, encarregado por Nossa Senhora da Conceição de estabelecer as fundações de Ceará-Mirim.

Perdi um amigo e um companheiro de divagações e inquietações. Perdi um contendor leal a precioso, culto e coerente com as questões de princípios que adotou, alguém que fazia diferença na cosntrução de uma convivência democrática da diversidade político-ideológico.

Ceará-Mirim e o Rio Grande do Norte perderam a sua maior expressão literária. Os humanistas, um dos seus mais renitentes retratistas e ativistas Verônica e os seus filhos, um companheiro e um pai devotado.

Que Nossa Senhora da Conceição o receba como seu acólito e o recomende ao seu filho para que ele tenha um brevíssimo estágio, pois já chegou preparado, e retorne logo a esse nosso plano para completar a sua missão.

OBS – Deixou-me o encargo de editar o seu livro de poesias “Musa Cafuza”, pois era um bom poeta embora se confessasse “intruso” nesse gênero.

Natal, madrugada de segunda –feira, 20.06.11

Pedro Simões

sábado, 18 de junho de 2011

COLOQUIO CULTURAL



Caro(a) Amigo(a):

A parceria constituída pela poetisa cearamirinense e divulgadora cultural CEICINHA CÂMARA (membro da SPVA-RN e Poetas del Mundo), pela CÂMARA MUNICIPAL DE VILA DO BISPO, pela JUNTA DE FREGUESIA DE VILA DO BISPO e pela ADC-ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA E CULTURAL DE VILA DO BISPO leva ao vosso conhecimento a realização do "COLÓQUIO CULTURAL: TRÊS TEMAS - TRÊS AUTORES", com os palestrantes: Dr. Rubens Azevedo/RN-Brasil; Dra. Selam Calazans/Rio de Janeiro-Brasil; e Dr. Carlos Morais/Lisboa-Portugal, que será realizado no dia 20 de Junho de 2011 (próxima Segunda) pelas 20:00, no Auditório do Centro Cultural de Vila do Bispo. Este evento será a concretização do intercâmbio cultural entre BRASIL (Ceará-Mirim/RN) e PORTUGAL (Vila do Bispo/Algarve), feito pela poetisa CEICINHA CÂMARA, cidadã brasileira, radicada em Portugal.

Portanto, peço apoio de divulgação. Para isto, envio cartaz em anexo e imagens dos logotipos dos patrocinadores: Restaurante Solar do Perceve (onde a Ceicinha trabalha); Ourivesaria Luz; Restaurante Ribeira do Poço; e o Hotel Mira Sagres (onde os palestrantes vão se hospedar). E os logotipos dos apoiantes: SPVA; Poetas del Mundo; Câmara Municipal de Vila do Bispo; Junta de Freguesia de Vila do Bispo e ADC-Vila do Bispo. Eles merecem ser divulgados, por acreditarem nesta minha iniciativa e apoiarem a CULTURA. Por favor, repasse esta mensagem aos seus amigos e aos que puderem comparecer, serão bem vindos.

Agradeço antecipadamente,

CEICINHA CÂMARA

Organizadora do Evento

-De Ceará-Mirim/Rio Grande do Norte/Nordeste Brasileiro.
-Radicada atualmente em Vila do Bispo/Algarve/Portugal.
http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_europa.asp?ID=6981

quinta-feira, 9 de junho de 2011

AO AMIGO QUE PARTIIU: ZÉ BARACHO




Ao amigo que partiu...
Sabe amigo, já se vão muitos anos, talvez, poucos, para você que viveu 81. São, na verdade, doze anos de convivência e amizade. Nesse curto espaço de tempo aprendi a amá-lo e respeitá-lo como a um pai.
Parece que foi ontem, que me encontrei com você pela primeira vez. Fazia um passeio de bicicleta com meu amigo Mucio Vicente, quando ele convidou-me para visitar Tabuão. Disse que lá havia um mestre de congo, uma dança folclórica... estávamos em 1999. Na época não me interessava pelas coisas da cultura de Ceará-Mirim.


Assim, conheci mestre Tião e ele me apresentou você como embaixador de congo. Sabe companheiro, não tinha ideia que aquele encontro seria o início de uma grande e verdadeira amizade e, também, me direcionaria para um dos mais importantes períodos de minha vida. Foi por vocês que me interessei pelas histórias de nossa gente e resolvi buscar, na pesquisa, os registros de nossas memórias.
Sua figura singela e personalidade forte sempre foi sua principal característica e todas as vezes que íamos para qualquer apresentação você estava lá, às vezes invocado com alguma coisa, porém, fazendo sua parte no brinquedo.



Prisão do embaixador do congo


Não tenho ideia de quantas vezes estivemos juntos, gravando, dançando, brincando, cantando, viajando, tomando conhaque, que importava o tempo, porque, como diz o poeta Alceu: “ele se dilata como um fio, elástico, caminho, estrada que nos transporta... E a gente segue o tempo e ninguém nota, seus caminhos, suas rotas, por onde o tempo seguiu”.
De repente o fim do caminhar e aí, a despedida certa, de uma realidade viva entre tantos bem-quereres, mas, a vida continua, e nos restam as reminiscências, como diz o profeta: “que vosso presente abrace o passado com nostalgia e o futuro com ânsia e carinho”.
Tenho na lembrança alguns retalhos de nossas andanças nos caminhos da cultura. Lembra da apresentação na cidade de Pureza? Andamos entre ruas e becos a procura daquelas bodegas onde encontraríamos o néctar mágico...Ufa, até que enfim vencemos o desafio e a noite foi maravilhosa!



Mestre Tião - Professor Deífilo Gurgel e Mestre Zé Baracho


Naquele dia na cidade de Pureza, mais uma vez, você surpreendeu a todos os presentes, quando na sua fala, recitou um poema improvisado, e nele, cantou e contou a história da cidade desde seu primeiro nome que se chamava Pau Darco...Aprendi mais uma naquela noite! Assim, fui digerindo todos os seus conhecimentos e, certamente, os levarei por toda minha vida e, enquanto eu tiver oportunidade, os repassarei para as futuras gerações, senão eu, mas o farei, através destes modestos escritos, que estão fluindo de dentro de minha alma.

Apresentação de Mestre Zé Baracho - Fórum Social Nordestino de 2004 - Recipe/PE

Um dos momentos mais importantes de nossa caminhada foi no Fórum Social Nordestino em 2004, na cidade de Recife. Apresentávamos a história do Congo de Guerra para uma grande plateia e, na sua fala, você perguntou aos pernambucanos se sabiam o porquê do nome Pernambuco? Eles não responderam e você falou sobre Joaquim Nabuco e, em seguida, nos presenteou com um hino tradicional de Olinda ou Leão do Norte: “os caminhos congressos sagrados, Pernambuco seguiu varonil...Recife te vê lado a lado....Na pedra onde reza o Brasil... És tu Leão, Leão do Norte...” No final, a plateia cantando o refrão Leão do Norte, o aplaudiu de pé. Foi emocionante vê-los eufóricos e felizes, porque, um potiguar estava ali, lhes ensinando um hino tradicional, que a maioria não conhecia.
Foram muitos momentos de emoção, é impossível mensurá-los, pois, faltariam linhas para descrevê-los. Um deles foi quando gravávamos uma entrevista e você cantou o romance de Dom Jorge! Fiquei encantado com sua lembrança, pois, aquele romance era cantado pelos menestréis na Idade Média e, você, estava lá, contando a história através da música: “Que que tu tem Juliana, que estás tão triste a chorar....minha mãe eu soube ontem que dom Jorge ia se casar...”.




Mestre Tião e Mestre Zé Baracho - a última vez que o vi


Nosso último encontro foi no aniversário de Mestre Tião, no domingo, 15 de maio, quando comemorava seus 97 anos. A lembrança mais recente sua, foi quando mestre Tião, tocava seu surrado pé de bode, uma acordeon de oito baixos, e cantávamos juntos a música de entrada do Congo de Guerra: nas horas de Deus amém...é padre filho e espírito santo... essa é a primeira cantiga, que nessa casa eu canto...
É madrugada e estou congelando de frio, vez em quando, entra um fio de cruviana que passa soprando suavemente, a sensação é boa e ajuda a escrever essas mal-traçadas linhas. Meu pensamento projeta quadros cinematográficos que passam velozmente deixando registrados na memória todos nossos momentos juntos...estou muito emocionado e no silêncio da sala reflito o quanto você foi importante para mim.
Vou me finalisar com um trecho da despedida do profeta de Gibran:


“Adeus, povo de Orphalese.
O dia já se foi.
E está se cerrando sobre nós, como o nenúfar se cerra sobre seu próprio amanhã. O que aqui nos foi dado, nós o conservaremos. Mais um curto instante e minha nostalgia começará a recolher argila e espuma para um novo corpo. Mais um curto instante, mais um descanso rápido sobre o vento, e outra mulher me conceberá.
Meu adeus a vós e à Juventude que passei entre vós. Foi somente ontem que nos encontramos num sonho. Cantastes para mim na minha solidão, e eu, com vossas aspirações, construí uma torre no céu. Mas agora, nosso sono fugiu, e nosso sonho desvaneceu-se, e já não é mais a aurora.
O meio-dia nos abrasa, e nossa sonolência transformou-se em pleno despertar, e devemos nos separar. Se nos encontrarmos outra vez no crepúsculo da memória, conversaremos de novo e cantareis para mim uma canção mais profunda.
E se nossas mãos se encontrarem noutro sonho, construiremos mais uma torre no céu."

É isso meu querido mestre, sua hora chegou. Que Deus o tenha em seus domínios eternos e, de onde você estiver, olhe por aqueles que aqui ficaram lutando pelo reconhecimento e fortalecimento de nossa cultura popular.
AVE, AVE, MESTRE ZÉ BARACHO!!!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

GENERAL JOÃO VARELA



O General de Brigada João da Fonseca Varela, nasceu em Ceará-Mirim, em 2 de dezembro de 1850 e morreu em Natal, aos 81 anos completos, no mesmo mês do nascimento, dia 12, em 1931.
Herói da Guerra do Paraguai, último comandante da Fortaleza dos Reis Magos, Chefe de Policia (equivalente a Secretário de Segurança) e abolicionista, foi promovido a general por ato do Presidente Epitácio Pessoa. Recebeu inúmeras distinções, entre elas a Medalha de Bravura Militar, as Medalhas das Imperiais Ordens de Cristo e da Rosa e a da Campanha do Paraguai.
Homem de muita bravura, civismo (alistou-se para a campanha do Paraguai quando tinha apenas 16 anos) e integridade moral, é motivo de orgulho para a sua cidade de nascimento e para o próprio Rio Grande do Norte e um estímulo para os seus descendentes e conterrâneos.
Nenhuma voz é mais credenciada do que a de Câmara Cascudo que a ele dedicou uma de suas Acta Diurna, publicada em 2 de julho de 1943(*):
“O Presidente Epitácio Pessoa pelo Decreto 3.958, de 24 de dezembro de 1919, conferiu aos oficiais veteranos da Campanha do Paraguai as honras de General de Brigada.
Por isso João da Fonseca Varela era o General Varela.
Recordo-o com saudade. Ato, forte, claro, a longa barba branca descendo para um busto de atleta, parecia um daqueles boers do Transval, soldados natos e comandantes desde o batizado.
Cercava-o um halo de veneração irresistível. A onda nacionalista, deflagrada por Olavo Bilac, encontrava no velho Varela um centro de atração para o nosso entusiasmo.
Em todas as festas militares ou civis onde houvesse multidão, estava presente o veterano do Paraguai, possante, sereno, fardado, o peito coberto de condecorações.
Quando as bandas executavam o hino nacional em continência à bandeira ele tirava o boné da cabeça e ficava hirto. Não fazia continência à bandeira da República porque não era a sua, a de Caxias, Osório, Porto Alegre e Pelotas, seus ídolos.
Disciplinado, saudava apenas a bandeira de sua Pátria.
Republicano na Monarquia, era monarquista na república. Monarquista platônico, respeitador das leis, lembrando sempre o imperador.
Nascera num aniversário de D. Pedro II, 2 de dezembro de 1850. Com dezesseis anos, fugindo de casa, alistou-se voluntário para a guerra contra o ditador Francisco Solano Lopez, o tiranillo do Paraguai, a 9 de março de 1865.
Seguiu no 28º Batalhão até S. Borja, onde este se dissolveu, comandado pelo norte-rio-grandense José da Costa Vilar. Incorporou-se ao 36º de Voluntários da Pátria. Alferes, passou para o 36º e depois para o 48º Batalhão e foi extinto depois de Avaí.
Varela ficou adido ao 2º batalhão de Infantaria e posteriormente ao 18º.
Bateu-se em Avaí, em Curuzu, em Curupaiti, na ponte de Itororó, em Humaitá, na batalha-modelo de Lomas Valentinas.
(...)
Feita a paz voltou a Natal e regressou ao Exército, sendo alferes efetivo.
(...)
No Rio Grande do Norte teve várias comissões, todas militares. Comandou a Fortaleza dos Reis Magos, em 1888. Ingressou no Corpo Policial da Província, sendo capitão e o seu comandante. Enfrentou, em diligências ásperas, os cangaceiros no interior norte-rio-grandense e paraibano.”
O notável Mestre de todos os norte-rio-grandenses ainda relata que o general vira Caxias, Osório, Porto Alegre, Pelotas e Fernando Machado, seus heróis, nos acampamentos e nos campos de batalha, cada qual com a sua característica, todos, entretanto, bravos guerreiros.
DIZ AINDA O GRANDE HISTORIADOR POTIGUAR QUE DIAS ANTES DE MORRER, ERGUENDO-SE COM MUITA DIFICULDADE, O VELHO GENERAL FARDOU-SE E FOI À PRAÇA PEDRO II (HOJE JOÃO TIBÚRCIO), ONDE SE ERGUIA O BUSTO DO IMPERADOR. DIANTE DO BUSTO, PERFILOU-SE, BATEU UMA CONTINÊNCIA E VOLTOU PARA CASA. PARA MORRER.

(*) – Cascudo, Luis da Câmara – “O livro das velhas figuras” – IHGRGN. 1976 (pgs. 84/86)

Fonte: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=1391412562442&set=a.1298548760905.32674.1745986839&type=1&ref=notif¬if_t=photo_comment#!/photo.php?fbid=219759128042982&set=a.192837620735133.47892.100000266882272&type=1&theater