terça-feira, 19 de maio de 2015

JULIO GOMES DE SENNA - 118 ANOS

Dr. José Fernandes Senna, sua esposa Aline e o filho Ricardo Senna
Abertura do Memorial Julio Gomes de Senna
Esc, Mun. Julio Gomes de Senna - Ceará-Mirim/RN

Julio Gomes de Senna nasceu em Ceará-Mirim a 20 de maio de 1897, era filho de Galdino Gomes de Senna e Maria Gomes de Senna e casado com Maria Salomé Fernandes de Senna. Do casamento teve três filhos, Nilton Fernandes Senna (felecido), Jose Fernandes Senna e Nedy Fernandes Senna (falecida). Faleceu no Rio de Janeiro aos 10 de junho de 1972.
Concluiu o curso secundário no Atheneu Norte Riograndense, em Natal, formou-se em 1933, como Engenheiro Topógrafo e Rural, na Escola Superior de Medicina Veterinária e Agronomia de Belo Horizonte/MG e, como Engenheiro Agrônomo pela Escola Agrícola da Bahia, Salvador, em 1935. No Rio de Janeiro fez o Curso Normal de Técnico em Assuntos Postais-Telegráficos, na Escola de Aperfeiçoamento dos Correios e Telégrafos, em 1940. Recebeu títulos do Curso de Agrônomo Regional pelo Ministério de Agricultura e do Curso de Ecologia Agrícola do Professor Girolamo Azzi, da Escola Nacional de Agronomia. Foi também diretor, em 1938, do Campo Experimental “Octavio Lamartine”, em Jundiaí – Macaíba – RN, do Ministério da Agricultura.
No DCT, exerceu ainda, entre outras chefias, a de chefe de tráfego postal da Diretoria Regional do Distrito Federal (GB-Rio); de Inspetor Geral do DCT e de Presidente de várias Comissões de Inquéritos Administrativos.
Em 1942 foi comissionado chefe da Seção do Pessoal da Diretoria Regional dos Correios do Estado de Goiás, sendo em 1944, requisitado por Dr. Pedro Ludovico, Interventor Federal, ao Sr. Presidente da República, para chefiar a Seção de Engenharia e produção, do Município de Anápolis, Estado de Goiás.
A experiência com pesquisas científicas se deu a partir da defesa da tese de graduação “O algodão e as secas do Nordeste”, em 1935 quando colava grau de Engenheiro-Agrônomo na Escola Agrícola da Bahia.
Em 1939 foi convidado pelo então prefeito de Ceará-Mirim Pedro Heráclito Pinheiro, para fazer o levantamento geográfico do município, ainda não existente, em obediência aos dispositivos do Decreto 311, de 2 de março de 1938 e, naquela ocasião completou suas anotações anteriores, já enriquecidas de dados colhidos em 1915, quando, como diarista da “Comissão de Estudos do Vale do Ceará-Mirim”, do Governo Federal e sob a direção do engenheiro Abreu e Lima, foram encarregados de fazer a medição e o alargamento do leito do Rio Água Azul, no trecho Usina São Francisco – Bacia do Pirpiri, além de outros trabalhos.
Em 1956 apresentou no II Congresso Brasileiro de Engenharia e Indústria, realizado no Rio de Janeiro sob os auspícios do Clube de Engenharia uma tese sobre a cultura do trigo, baseada nas condições ecológicas do Goiás. Intitulada “A Farinha de Trigo poderá ser fabricada no Centro Geográfico da Nação Brasileira”, que foi aprovada, conforme consta em seus “Anais”.
As anotações registradas por Dr. Julio Senna durante o período em que prestou serviços no vale do rio Ceará-Mirim resultaram na publicação dos livros Ceará-Mirim exemplo nacional volumes I e II, que trata de um estudo detalhado sobre o município.
Os livros foram publicados pela família após o falecimento do autor. O lançamento do Ceará-Mirim Exemplo Nacional volume I foi em 28 de janeiro de 1975 na Livraria Universitária e apresentado pelo ilustre cearamirinense Dr. Edgar Barbosa, onde fala da importância do trabalho realizado pelo Dr. Julio Senna:
            “Devotamento a uma causa e fidelidade à memória do esposo e pai desaparecido, enaltecem a apresentação desse livro de Julio Gomes de Senna perante a nobreza intelectual do Rio Grande do Norte. A Academia de Letras e a Livraria Universitária patrocinam a divulgação da obra do nosso conterrâneo do Ceará-Mirim, que tanto desejou que o seu heróico esforço sobrevivesse para chegar às mãos da juventude. Porque, sendo uma Geografia, uma História, uma Sociologia, e, antes de tudo, um dos mais sérios trabalhos de reflexão e pesquisa, o livro de Julio Senna, cheio do sentimento da terra de que ninguém se desprende sem perder a alma, é também um apelo aos jovens para que estudem os nossos problemas.
            Em nossa limitada bibliografia sobre os temas abordados em “Ceará-Mirim, Exemplo Nacional”, poucos estudos se revestem da autenticidade, da paixão científica, do método expositivo dessa obra que somente uma adulta evolução universitária saberá premiar. Através de conceitos tão autorizados quanto lisonjeiros, conterrâneos como Nilo Pereira, Miguel Seabra Fagundes, Manoel Rodrigues de Melo, Raimundo Nonato da Silva e Francisco Rodrigues Alves, julgaram esse livro, que mereceu laurel distinto do Conselho Nacional de Geografia. Podemos afirmar, portanto, que “Ceará-Mirim Exemplo Nacional”, se distingue de outros ensaios e monografias do gênero em dimensões de um quadro de toda a vida nordestina, especificamente da zona do agreste e das áreas classificadas como “vales úmidos” do Nordeste Oriental.
            A crítica certamente dirá que o Autor se propôs a realizar uma prospecção geo-socio-econômica na qual, ainda uma vez, transparecem seu fecundo bairrismo e seu conhecimento, adquirido palmo a palmo, das realidades do município brasileiro. Ousamos acrescentar que Julio Gomes Senna fez algo mais do que um estudo a terra e do homem. Deixou-nos um método, uma classificação de realidades e problemas que, por vezes, passam despercebidos aos simples contempladores da paisagem.
            Guardadas as proporções com o espírito e a cultura vigentes na época, “Ceará-Mirim, exemplo nacional”, se aproxima do livro com o qual, em 1902, Euclides da Cunha atraiu a inteligência brasileira para a compreensão do meio físico e o estudo das profundezas da nossa índole. No se leve isso em conta de exaltação de conterrâneo entusiasta.  Se Euclides, vislumbrando o sertão agressivo de canudos, encontrou oásis nas ribanceiras do “Vaza-Barris”, Julio Senna fez do rio Ceará-Mirim o seu motivo de epopéia. Do leito de regatos perdidos no mapa, tem surgido a História de povos ilustres. E o rio Ceará-Mirim já venceu, nas meditações de Nilo Pereira, recordando um seu modesto afluente, o “Água Azul”, o fidalgo rio Sena, banhado por dois mil anos de grandeza.
            No lançamento do livro na cidade de Ceará-Mirim em 04 de fevereiro de 1975, o então prefeito Ruy Pereira Junior fez a apresentação exaltando o nome do ilustre escritor dizendo que aquele momento era imortalizado como marco de veneração ao insigne filho que projetou tão alto o nome da terra dos verdes canaviais, cantada no seu aureolado livro “Ceará-Mirim Exemplo Nacional” em cujas páginas não faltam as descrições racionalmente apresentadas num escalonamento perfeito das matérias, com esquemas analíticos os mais profundos desde o estudo físico da terra aos fenômenos meteorológicos, à Flora, à Fauna, ao Homem, à Saúde, à História, à Administração e até à Política, num manancial de dados, análise, citações que perplexarão embevecidos os estudiosos da nossa terra.
            Nilo Pereira em suas Notas Avulsas, publicada no Jornal de Commercio em Recife – 16/02/1975, fala sobre a importância do estudo de Julio Senna:
            “Volto ao Ceará-Mirim para a apresentação do livro de Julio Senna, primeiro volume. O título é muito sugestivo – “Ceará-Mirim, exemplo nacional”. O tema denuncia um líder municipalista, O Prefácio é de Edgar Barbosa. E a lição que se recolhe é a da terra – suas riquezas, seus privilégios, sua ecologia, aves, animais, águas.   
            Antes de falar sobre o homem, Senna explica a terra. O mesmo que Euclides da Cunha n’Os Sertões. Ninguém compreenderia Canudos, Antonio Conselheiro, os jagunços, o fanatismo bárbaro sem a rudeza do meio. Vi Canudos. Debrucei-me sobre aquele reduto solitário. Ali vagava ainda a sombra do Conselheiro. As batalhas ressoavam entre montes sinistros.
            No Ceará-Mirim a terra explica o homem, que chamei um doce “caniço pensante”. Julio Senna mostra – como já o havia feito Gilberto Osório de Andrade – que a perenidade do vale vem toda dos olheiros. O rio Ceará-Mirim não é o Nilo: - quando se retira, depois das suas enchentes, que deslumbraram os meus olhos de menino, não deixa o limo fecundante. Trata-se dum soberano destronado, desnilificado. Júlio Senna abre toda uma série de estudos sobre a terra, Seu trabalho é de inteira idoneidade científica. Sugeri que fosse o seu livro adotado nas Escolas de nível médio e universitário. Interessa não apenas ao Ceará-Mirim, mas a todo o Rio Grande do Norte.
Minha relação com a família de Julio Gomes de Senna iniciou em 2007 quando conheci seu filho o engenheiro José Fernandes Senna. Desde as primeiras leituras do Ceará-Mirim Exemplo Nacional que me identifiquei com  o trabalho do autor, provavelmente, pela minha experiência com temas sobre geologia, hidrografia, mineralogia, geografia, do tempo da pesquisa com diamantes e tão bem tratados no livro. Essas observações chamaram a atenção do Dr. José Fernandes que, também, se identificou comigo surgindo uma grande amizade.
Esse contato sincero se intensificou com o tempo e a família de Julio Senna foi confiando todo seu acervo particular para que catalogasse e estudasse, e, quem sabe, fizesse uma publicação futura.
Em 2010 instalamos na Escola Municipal Dr. Julio Senna um pequeno nicho de vidro onde ficariam permanentemente expostos alguns equipamentos do acervo do patrono.
No ano de 2012 Dr. Jose Fernandes planejou adquirir um imóvel para que instalássemos o “Memorial Julio Gomes de Senna”. Sugeri que fosse instalado na escola. Naquele ano, após conversa com o prefeito, a família de Dr Julio Senna contratou o arquiteto Cicero Marques para fazer o projeto do tão sonhado memorial, pois, tínhamos uma promessa que poderia ser construído com a reeleição do então prefeito.
Enquanto aguardávamos os acontecimentos, Dr José Fernandes construiu um pequeno espaço na escola para instalar o Memorial Julio Gomes de Senna como homenagem pelos relevantes serviços prestados por seu pai à sua terra natal e expor os equipamentos e artefatos, coletados e usados, pelo patrono da escola ao longo de sua vida.
O memorial que foi projetado não saiu do papel, no entanto, ficou o sonho registrado, e quem sabe um dia, possa ser construído beneficiando toda comunidade escolar e a população de Ceará-Mirim.


Deixamos um Memorial modesto instalado na escola e esperamos que a comunidade escolar e as gestões, atual e as que virão, zelem e preservem tudo que ali foi exposto em respeito ao esforço da família e, principalmente, à memoria do grande cientista cearamirinense Julio Gomes de Senna.