domingo, 3 de dezembro de 2017

POSSE DA CONFREIRA FRANCISCA MARIA BEZERRA LOPES


Discurso de FRANCISCA MARIA BEZERRA LOPES, proferido por ocasião de sua posse na ACLA, no dia 18 de novembro de 2017.
Excelentíssima Presidenta, da Academia Ceará-mirinense de Letras e Artes “Pedro Simões Neto”, Dra. Joventina Simões de Oliveira, autoridades presentes, acadêmicos, meus familiares, amigos e demais convidados, minhas Senhoras e meus Senhores...
Nesse momento de enlevo e emoção, peço a permissão, inicialmente, para fazer das minhas palavras um canal para transmitir aos presentes, o quanto me sinto feliz em poder dividir com todos, a grandeza do momento que ora vivencio.
Quero de antemão, agradecer aos acadêmicos dessa conceituada instituição cultural, em especial: Gerinaldo Moura da Silva, Gibson Machado e Sayonara Montenegro, que me incentivaram a pleitear a vaga existente da cadeira nº 4, que tem como patrono a imortal Maria Madalena Antunes Pereira, nascida em Ceará-Mirim, no Engenho Oiteiro, no dia 25 de maio de 1880. Mas, foi especificamente, sob o teto do Engenho Guaporé que viveu a maior parte da sua vida. Ambos situados no vale, região canavieira do estado. Seu falecimento aconteceu no dia 11 de junho de 1959, em Natal, na casa que residia, na avenida Hermes da Fonseca, vitimada por uma enfermidade, que a deixou impossibilitada de andar e praticamente cega. A sua morte, porém, não a tirou do contexto literário. Muito embora tenha publicado cartas no jornal “O Ceará-Mirim”, sob o pseudônimo de “Corália Floresta” e Hortência, foi mulher-escritora que publicou um único livro, “Oiteiro: Memórias de uma Sinhá Moça”, que se perpetuou na mente de quem o leu e, fez de si a primeira autora do gênero memória no Nordeste brasileiro.
Agradeço, ainda, aos demais acadêmicos pela demonstração do acolhimento a minha candidatura, mediante os votos obtidos. Este é um dos motivos pelo qual trago a público a minha gratidão nesta solenidade de posse.
Da terra do sal – Mossoró - quis Deus que eu viesse depositar minhas ações líteroeducativas na terra da cana de açúcar, da rapadura e do mel – Ceará-Mirim. Que eu pudesse desenvolver de forma intensa, como professora, o meu fazer profissional junto aos alunos das escolas cearamirinenses. Nas redes públicas ou particular.
O agora, trata-se de um momento muito singular da minha vida como educadora e escritora; amante da arte e da cultura. Sinto quão grande é a responsabilidade posta sobre mim. Farei o que estiver ao meu alcance para contribuir com o crescimento da ACLA, tão célebre instituição.
A partir de hoje, com muita honra, ocuparei a cadeira nº 4, não sem antes, porém, enaltecer a figura da confreira que me antecedeu.
Até onde me levem as flores quero conhecer montanhas
Escalar nuvens e grandes cumes,
Conhecer e amar as planícies esquecidas
E não enxergar mais nada, só o azul celeste
Banhando-me em nuvens cristalinas e perfumadas.
ATÉ ONDE ME LEVEM AS FLORES
Lúcia Helena Pereira – 2009
Não se pode falar em Lúcia Helena sem pensar nas flores. Sem adornar os seus saberes com o perfume que delas exalam em seus poemas. Sem extrair do seu âmago a pujança da sensibilidade poética que residia em seu ser. Sem percorrer nas páginas onde estão grafadas a sua história de vida, os caminhos por ela percorridos, para se tornar a mulher que viveu entre nós.
Enredada em lençóis literários, muito embora, historiadora, por graduação, não negou as suas origens, nem sucumbiu os seus impulsos na arte do bem escrever. Neta de Madalena Antunes e sobrinha de Etelvina e Juvenal Antunes, herdou a supremacia familiar da linhagem intelectual. Aos treze anos de idade já demostrava grande potencial por meio do qual conquistou o seu primeiro prêmio literário, pelo Instituto Maria Auxiliadora, por meio de Concurso alusivo ao dia das mães, com o texto intitulado “O dia das Mães é o grande dia dos Filhos”, publicado pelo jornal A República. O segundo, veio aos 17 anos, pelas mãos de Luís da Câmara Cascudo. Num concurso de oratória promovido pelo Colégio Imaculada Conceição, sob o tema: O papel da mulher na sociedade e no mundo. Angariou esse prêmio entre 27 concorrentes, do Norte e Nordeste.
A conquista do seu terceiro prêmio literário, se deu através do concurso lançado pela Rede de Hotelaria de Vitória/ES, sob a coordenação do engenheiro Dr. Francisco Jorge Rebouças Caldas. O tema deste concurso era livre e, deu a Lúcia Helena o primeiro lugar e duas menções honrosas. O texto com o qual concorreu tinha o título: Ceará-Mirim/RN - Minha Cidade encantada! Em dezembro de 2003, obteve o segundo lugar no Concurso Literário de Crônicas pela Sesmaria Cultural do Rio Grande do Sul- Concurso Rui Favali Bastide - com a crônica: Viagem de Regresso (uma evocação ao Ceará-Mirim). Vieram muitos outros prêmios, além destes, seguidos de diplomas e títulos.
Na sua trajetória compilou, do seu próprio universo de produção, palestras e conferências que ministrou em diversas cidades e estados brasileiros dentre os quais se destacaram: O Rio Grande do Norte nas cidades de Ceará-Mirim, Natal, Mossoró, Macau e Assu. Nos demais estados, o alvo da atuação foram as capitais: Recife, João Pessoa, Maceió, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Vitória, Fortaleza, Florianópolis, dentre outras localidades. Assim como também, participou de Congressos, Simpósios, Seminários e Encontros literários em Natal/RN e outros Estados.
Talento não lhe faltou para adentrar nos desafios e colecionar êxitos. Fez sucesso capturando das reservas acumuladas nas retinas dos olhos do mundo, as essências para entrelaçá-las com as que povoavam a sua mente, tornando-as corpos textuais.
Galgou espaços no meio literário a exemplo da avó Madalena Antunes.
Tornou-se Presidenta Regional da AJEB (Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil), no ano de 1989. Nove anos depois – precisamente, entre os anos de 1998 a março de 2000, foi eleita em quatorze estados brasileiros a saber: Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Espírito Santo, Pará, Paraná, Santa Catarina, Pernambuco, Distrito Federal, Paraíba e Delegação de Minas Gerais para conduzir os destinos da supracitada e tão conceituada entidade cultural, em nível nacional.
Tornando-se, desta forma, a primeira mulher norte-rio-grandense a presidir uma entidade cultural em vários Estados. Ocupou a cadeira 08 da Academia Feminina de Letras, tendo como patrono a sua avó paterna Magdalena Antunes Pereira. Pertenceu a UBE (União Brasileira de Escritores), tendo sido eleita por unanimidade.
Contando com o patrocino da Fundação José Augusto, publicou o seu primeiro livro de poemas: Pássaro Azul de Asas Cor-de-rosa, em 1983, que foi prefaciado por Nilo Pereira, com orelhas escritas por Roberto Lima de Souza e depoimento de Cleanto Wanderley. No dia do lançamento chegou a autografar mil exemplares da obra poética no Aéro Clube de Natal.
Lúcia Helena autodefiniu-se quando afirmou: “Sou um poema inacabado.”
Talvez, com isso, quisesse estender aos renomados poetas do seu tempo a liberdade para acrescentar ao poema que foi a sua vida, novas metáforas, novas rimas e cadências para compor e dar ritmo ao seu ego poético, delineado entre os espinhos e o perfume das flores, dando-lhes a liberdade para cravejar de essência cada verso e estrofes das vertentes mais variáveis do seu ser. O seu lirismo se fez encanto e beleza. A sua voz ecoou muito além do seu fazer literário. Se fez ponte por onde transitou. Foi eclosão. Em Goiânia, visitou Cora Coralina realizando o sonho pregresso de conhecê-la pessoalmente. A reciprocidade entre as duas rendeu a Lúcia Helena a ímpar emoção e o estreitamento dos laços de amizade, forjados naquela visita, ainda mais, quando a poetisa goiana lhe presenteou com um lindo e delicado poema que o intitulou: À Menina Nordestina do Vale Verde.
No ano de 1998, essa mesma menina do vale verde da Ceará-Mirim canavieira, deitou-se, manhosamente, sobre os textos do seu tio - boêmio e irreverente poeta - Juvenal Antunes, para organizar, uma breve coletânea, publicando desta feita o seu segundo livro.
Colecionou méritos no seu percurso existencial. Foi amiga e foi amante da vida e das flores. Isso lhe rendeu a alcunha de Poetisa da Flores. Era amada, também. Numa conferência, sobre a História de Ceará-Mirim /RN, por ocasião da festa alusiva ao aniversário da cidade, conseguiu ajuntar, no Clube da USESP, um público de 560 pessoas somando entre elas, autoridades locais, alunos das escolas e conterrâneos.
Lúcia Helena Pereira, natural de Ceará-Mirim-RN, veio ao mundo no dia 09 de julho de 1945. Aos setenta e um anos de idade, mergulhou na eternidade, deixando para trás, numa manhã, do segundo dia da semana, em 11 de julho de 2016, as instituições que a eternizou, assim como, a ACLA Pedro Simões Neto.
É inegável que ainda, há muito a dizer sobre Lúcia Helena Pereira. Sua irreverência, seu jeito de ser, suas mudanças de temperamento... Porém, prefiro deixar que outros sintam o desejo de passear sobre as pegadas deixadas pelos caminhos aonde ela pisou e, sintam o gosto de desbravar o seu âmago desnudo no contexto sóciopoético e histórico; nos devaneios sentimentais exorcizados em textos onde mais significativo que o título ou o tema é tradução do emaranhado das teias que o tece como ocorre no seu poema – “Sem Tema” - numa demonstração de que não falou apenas das flores:
SEM TEMA
Lúcia Helena Pereira
Ouço canções de amor
Na brisa fresca da hora,
Quando a lua se despede da noite
E o sol agonizando no horizonte
Explode em raios luminosos!
À minha frente, a estrada escura e longa,
Onde moram anônimos poetas
E uma criança faminta
Brincando de ser feliz!
Mais adiante o proletário
Adentra em seu modesto casebre,
Está arfante, após o dia de trabalho
Na grande fábrica de suor e lágrimas.
E suas mãos mornas e molhadas
Acariciam a magra esposa.
Depois, resignadamente,
Come a pobre ceia.
Cansado sobe à velha rede para repousar
Enquanto a chuva, sem pedir licença,
Vai molhando o seu barraco.
Esperando um milagre
Fecha os olhos e adormece
Porque precisa sonhar, apenas sonhar!
E assim, mesmo revestida de saudades, você, Lúcia Helena reside entre nós, para demostrar que a efemeridade do tempo é como o toque da brisa sutil que imprime em nossa pele o frescor da existência cotidiana. Enaltecê-la, neste momento, é honrar o seu perfil existencial. É crer que ao mudar-se para a morada celeste, você escolheu viver na nova existência, regando as flores do jardim da eternidade e sorvendo delas um perfume que não se esvai. Obrigada por ter fincado com pinos de esmeraldas suas raízes nos nossos corações.
Muito obrigada a todos.

REVISTA DA ACLA


A REVISTA DA ACLA, lançada agora no dia 18/11/2017, durante as festividades de aniversário desta Academia, tem tido uma excelente aceitação. 
Trata-se de uma revista onde se conta a história do nosso município, enaltece vultos desaparecidos e registra estatísticas sobre educação e outros aspectos de interesse social.
Procurem adquiri-la, através do Acadêmico Vice-Presidente Gerinaldo Moura da Silva.

MULHERES INTELECTUAIS DO CEARÁ-MIRIM E SEUS JORNAIS MANUSCRITOS

MULHERES INTELECTUAIS DO CEARÁ-MIRIM
E SEUS JORNAIS MANUSCRITOS
Postagem da ACLA Academia Ceará-Mirinense de Letras e Artes Pedro Simões Neto
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No Ceará-Mirim de antigamente, tempo do apogeu intelectual, havia um grupo seleto de mulheres que, às escondidas, redigiam prosas e poesias, numa época em que esse mister era característica exclusiva dos homens. E iam além, editavam esses textos em pequenos jornais denominados “O SONHO” (comandado pela professora e poeta Adelle de Oliveira, que circulou de 1905 a 1910) e “A ESPERANÇA” (comandado pela professora e intelectual Dolores Cavalcanti, que circulou de 1903 a 1909), manuscritos numa caligrafia irretocável, e os faziam circular pela cidade.

Eram jornais destinados à divulgação da escrita feminina, cuja grande luta era na defesa de “instrução para todos”, já que às mulheres não era dado o direito terem conhecimentos aprofundados sobre qualquer tema que fosse. Preocupavam-se com a falta de instrução das mulheres e com o pouco ou quase nenhum espaço que podiam ter no ambiente literário.
Fazemos anexar cópias destes jornais, que foram objeto de inúmeros estudos e pesquisas e, entre tantos textos, citamos os seguintes:


O SONHO:

Esses pequenos jornais eram confeccionados pelas grandes intelectuais de então, a maioria delas, hoje, Patronas da Academia Ceará-mirinense de Letras e Artes “Pedro Simões Neto” – ACLA. 


Destacamos:
ADELE SOBRAL DE OLIVEIRA (Nascida no Vilar, Patrona da Cadeira no 5, ocupada por seu sobrinho-neto, Ciro José Tavares da Silva); 
ETELVINA ANTUNES (Nascida em Ceará-Mirim, Patrona da Cadeira no 17, ocupada por Sayonara Montenegro Rodrigues); 
MARIA DOLORES BEZERRA CAVALCANTI (Nascida no Engenho Ilha Grande, conhecido por Cajazeiras, Patrona da Cadeira no 19, ocupada por Maria da Conceição Cruz Spineli).
MARIA MADALENA ANTUNES PEREIRA (Nascida no engenho Oiteiro, Patrona da Cadeira no 4, inicialmente ocupada por sua neta, Lúcia Helena Pereira, já falecida e hoje ocupada por Francisca Maria Bezerra Lopes); 
Estas, citadas anteriormente, eram as mulheres que apareciam, sem temores, embora também houvessem outras de valor intelectualmente semelhante, mas que, temendo se identificar, usavam pseudônimos nas suas publicações.
Eram elas: Erlinda Carvalho, Tracilla de Carvalho, Izaura Carrilho, Adelaide de Melo, Maria Carolina de Araújo Maciel e que ainda contavam com colaboração de mulheres de outros estados.
A existência destes jornais manuscritos é objeto de estudo por todo o Brasil, entretanto o Ceará-Mirim, por não ter um repositório da sua história, não possui nenhum exemplar para mostrar aos jovens o valor destas mulheres do início do século XX. 
A ACLA soube, através de familiares de Maria Dolores Cavalcanti, que os exemplares dos jornais “A ESPERANÇA”, haviam sido entregues a uma escritora mineira radicada no Rio de Janeiro, muito amiga da professora, e que esta escritora os havia entregue à Biblioteca Nacional (BN). Imediatamente foi feito um ofício à BN, solicitando a devolução dos jornais para os arquivos culturais do município. Veio uma resposta para a Academia, informando que na Biblioteca Nacional não há nenhum registro desse jornal. 
As cópias destes dois exemplares, que pertencem ao acervo particular da ACLA, foram fornecidas pela família de Dolores Cavalcanti e pelo Acadêmico Ciro José Tavares, sobrinho-neto de Adelle de Oliveira, que os conseguiram resgatar.

BANDA DE MUSICA MUNICIPAL TENENTE DJALMA RIBEIRO

HISTÓRIA DAS BANDAS DE MUSICA: Banda Tenente Djalma Ribeiro

Por: Gibson Machado Alves
Professor de arte


Estava à toa na vida
e o meu amor me chamou
pra ver a banda passar
cantando coisa de amor.
A minha gente sofrida
despediu-se da dor
pra ver a banda passar
cantando coisa de amor.

(A banda, Chico Buarque de Holanda)




Difundida na Europa, a banda de música parece ter suas origens na França.
No Brasil, embora haja a confirmação da existência de bandas militares na segunda metade do século XVIII em Pernambuco, elas vieram a ser mais populares a partir da chegada de D. João VI com sua corte ao Rio de Janeiro, em 1808. O rei trouxe consigo uma banda de música portuguesa e durante a estada da família real no Rio de Janeiro foram realizados vários concertos pelas bandas existentes na época.
As bandas civis, que herdaram a disciplina e a organização das bandas militares, foram criadas por todo o Brasil. Havia bandas de músicas, tanto nas cidades, quanto em vilas, povoados e até em sítios e fazendas. As cidades do interior organizavam suas bandas civis, que passavam a ser um veículo de entretenimento coletivo, participando de movimentos políticos, acontecimentos religiosos, cívicos e sociais.
No dias de apresentação, as bandas saíam da sua sede em formação militar, com os músicos de uniformes limpos, engomados, sapatos engraxados, quepes na cabeça, desfilando pelas ruas ao som de dobrados, em direção ao coreto da praça principal, onde executavam o melhor do seu repertório, que além de dobrados incluíam xotes, quadrilhas, valsas, choros, maxixes, frevo, aberturas de óperas.
As bandas desempenharam um papel fundamental na formação de novos músicos e na revelação de grandes talentos. Só para citar dois exemplos, o famoso compositor Carlos Gomes, autor de O Guarany, foi um músico de banda em Campinas, SP, sua terra natal e o maestro da Orquestra Sinfônica Brasileira, o internacionalmente conhecido Eleazar de Carvalho, tocava baixo-tuba na banda dos Fuzileiros Navais.
         Em Ceará-Mirim há registro da atuação da Banda de Música municipal desde o final do século XIX, como cita Manoel Ferreira Nobre em Breve Notícia sobre a província do Rio Grande do Norte, pg 193: Tem uma banda marcial que satisfaz na localidade ao duplo fim de sociedade recreadora e instrutiva. Há cerca de 5 anos que se organizou. O livro foi escrito em 1877, portanto nossa banda de música foi organizada em 1872.

         No livro Ceará-Mirim memória iconográfica – publicado em 2008 – há uma fotografia datada de 1901 na da inauguração das torres da matriz e colocação do sino. Naquela ocasião, a nossa banda já estava presente recepcionando a comunidade.
          Julio Gomes de Senna em seu livro “Ceará-Mirim – exemplo nacional – Vol II, página 114, diz que: “Vê-se que a banda marcial, que outra coisa não era, senão uma banda de música, também estava integrada na campanha da instrução.
            Mas as bandas de músicas, daí por diante, sempre existiram na cidade. Lembramo-nos, muito bem, da recepção feita ao Presidente da República, Dr. Afonso Penna, quando, em 1907, foi inaugurar a estação da Estrada de Ferro Central, quando  2 bandas cearamirinenses tocavam ao lado de uma grande banda de música, procedente de um vaso de guerra, ancorado no porto de Natal.
            Eram duas bandas locais afeiçoadas às correntes políticas. A banda “13 de Maio”, dirigida pelo maestro Prisco Rocha, bandeava para a oposição, enquanto a banda “12 de Outubro” acompanhava o Governo e era dirigida pelo mestre Venerando Cocentino.
            Muitas vezes assistimos, por ocasião das festas da Padroeira N. Sra. da Conceição, em 08 de dezembro de cada ano, a disputa ardorosa dessas duas instituições musicais, em que cada uma desejava superar a outra, na quantidade e na qualidade das “peças” exibidas.
            E a população se dividia na torcida, como hoje se torce por time de futebol. Para terminar a contenda, era necessário que alguém de influência aparecesse e rogasse o recolhimento, do contrário permaneceriam na porta da igreja até o dia seguinte.
         Vários foram os maestros da banda municipal, como por exemplo, o grande músico e comerciante Luis Ferreira e, nos anos 1970, o inesquecível Tenente Djalma Ribeiro,  que além de regê-la em eventos sociais introduzia crianças no mundo musical com oficinas de leitura e execução de instrumentos.

Tenente Djalma Ribeiro

            Entre os anos 2005 e 2008 a banda passou por uma reformulação, sob a regência do maestro David em parceria com o músico Marcos Machado e o Regente do Coral Municipal Araraú, Bacharel Kleber Jonatas e montaram a Big Band (Banda e Coral) para alguns shows de final de ano e shows específicos com musicas de Roberto Carlos e outro com musicas de Roupa Nova.
Banda de Jazz Municipal de Ceará-Mirim - anos 1930/1940

            Todos os antigos músicos na ativa ou afastados pela aposentadoria lembram do mestre Djalma Ribeiro. Recordam um período em que os músicos da banda eram voluntários, e, mesmo assim, vestiam a camisa da orquestra, tocavam por amor e orgulho de ser músico e representar a cidade a que pertenciam. O Maestro conduzia seu grupo de músicos como se fossem seus filhos – inclusive, penso que todos os filhos homens do mestre tocaram na banda – Ele levava tão à sério seu ofício que parecia um Quartel Militar – todos os dias, antes dos ensaios, a fanfarra saía pelas ruas da cidade animando a todos com velhos e inesquecíveis dobrados.
            São velhas recordações que ainda aliviam nossas sorumbáticas memórias!! O saudoso maestro além de reger nossa banda, coordenava o grupo de escoteiros Nossa Senhora da Conceição (talvez tenha sido um dos seus fundadores). Aquelas crianças e adultos o respeitavam como um Pai, porque ele era um homem digno, honesto e cumpridor de seu dever. Sua palavra era mais importante e confiável, do que qualquer papel assinado pelos prefeitos da época, pois a banda sempre foi vinculada à Prefeitura de Ceará-Mirim, porém, sua palavra era a última – e talvez – a única ouvida pelos seus superiores.
            Ao futuro da Banda Tenente Djalma Ribeiro, resta à memória de seus antigos componentes e a esperança dos novos músicos de que surjam projetos onde valorizem essa tradição centenária de nossa cidade e, consequentemente, esse patrimônio seja preservado para as futuras gerações e que, futuramente, não necessite recorrer às humilhações e peregrinações em busca de sua sobrevivência enquanto patrimônio cultural municipal.
            Será que era possível oficializá-la como PATRIMÔNIO MUNICIPAL através de Lei? Ou, a Câmara poderia sugerir ao executivo que isso fosse feito? Taí uma provocação aos representantes do povo de nossa Briosa Vila baquipiana.
FONTES CONSULTADAS:

ALVES, Gibson Machado. Ceará-Mirm memória iconográfica – Prefeitura Municipal de Ceará-Mirim, 2008.
IRMÃO, José Pedro Damião. Tradicionais bandas de música. Recife: CEPE, 1970. 184 p.
NOBRE, Manoel Ferreira. Breve Notícia sobre a Província do Rio Grande do Norte. 2ª edição – Pongetti – 1971.
SILVA, Leonardo Dantas (Org.). Bandas musicais de Pernambuco: origens e repertório. Recife: Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria do Trabalho e Ação Social, Fundo de Amparo ao Trabalhador, 1998. 395 p
SENNA, Julio de Gomes. Ceará-Mirim exemplo nacional – vol II. Pongetti – RJ – 1975.


terça-feira, 13 de junho de 2017

UM NOVO OLHAR PARA A HISTÓRIA DA INGLESA EMMA BARROCA

Recentemente tive a felicidade de conhecer a escritora e psicóloga Ana Claudia Trigueiro. Ela garimpava informações sobre o velho engenho Verde Nasce e Emma Barroca. Estava escrevendo um livro sobre a memória de sua avó que viveu naquele engenho. Fiquei muito feliz porque sua pesquisa contribuirá para esclarecer alguns fatos históricos ocorridos no vale do Ceará-Mirim pelo olhar de quem conviveu por alguns anos entre os corredores da casa grande e do velho engenho verde nasce. Abaixo segue  o texto que recebi da amiga Ana Claudia sobre sua pesquisa e a publicação do livro. Ansioso pelo lançamento!!!

AO AMIGO GIBSON

Olá Gibson,
É com muita alegria que te escrevo para informar que finalmente terminei de escrever o livro “Maria e o Mistério do Verde Nasce! Gostaria de te agradecer pelas informações disponibilizadas através deste maravilhoso blog!
Escrever sobre a infância de vovó foi uma tarefa árdua, porém muito prazerosa! Organizar a memória de uma senhora de oitenta e sete anos me custou muitas noites em claro. Criar histórias que servissem de arremate à trama, me  exigiu muita imaginação. Voltar à década de 30 de uma “menina de engenho” no vale do Ceará-Mirim me cobrou muita pesquisa. Sendo eu uma estrangeira nestas paragens, a tarefa foi ainda mais desafiadora!
Por que o fiz?
Tudo começou em 2006 em uma visita evocativa, ao vale do Ceará-Mirim. Era a primeira vez em quase oitenta anos que vovó Maria retornava ao engenho onde passou parte da infância. Lembro que foi muito emocionante! Não só para ela, mas para todos nós, que passamos a conhecer uma parte muito significativa da sua vida.
Vovó morou no Verde Nasce até os 14 anos, quando os avós, (ele era uma espécie de capataz, ela, cozinheira) faleceram e ela veio morar com a mãe em Natal. Em sua narrativa, vovó Maria demonstrou um amor muito grande pelo engenho e também curiosidade sobre quem foi Emma, a “pobrezinha” sepultada no alto da colina.
Visitar o Verde Nasce foi uma experiência singular! Senti-me encantada, assim como vovó e os que viveram ali. A paisagem do vale é uma paleta de cores vibrantes para os olhos de uma cosmopolita como eu, um tanto quanto aborrecida com o cinza da selva de pedra.
O mausoléu de Emma me causou grande admiração! É enternecedor ver o detalhe do posicionamento do túmulo, virado para o nascer do sol. (Verifiquei que não está voltado para o pôr do sol como afirmaram muitos). O poente está no sentido contrário ao vale, por trás do jazigo.
Sou muito curiosa, mas acho que Emma desperta interesse em todos os que veem seu túmulo. Ao conhecê-lo fui tomada por uma compaixão e uma curiosidade talvez maiores do que seria natural sentir, por uma pessoa que viveu mais de cem anos antes de mim: quem foi a pobre inglesa que morreu tão cedo, deixando esposo e filha órfãos do seu amor? Como ela era física e emocionalmente? Que ideias e valores a influenciaram? De que maneira se comportava, o que defendia ou repudiava?
Passei a procurar pelos vestígios da existência de Emma na internet e para a minha surpresa, alguns meses depois, consegui puxar o fio da meada da sua história, através de um site de genealogia. A maior dificuldade deveu-se à procura pelo falso sobrenome Thompson, erroneamente publicado em vários blogs e sites sobre a inglesa.
Consegui fazer contato com um tetraneto de Emma, o André Lucas que mora em Recife e é advogado formado na mesma faculdade do pentavô, o juiz Victor José de Castro Barroca. Tivemos algumas ótimas conversas pelo Facebook, porque ele também tinha muita curiosidade em saber sobre a ancestral ilustre.
Emma viveu em uma pequena cidade perto de Liverpool e foi lá que conheceu Marcelo Barroca. A igreja onde se casaram é belíssima e remonta ao século V. Os personagens viveram toda a ebulição da Revolução Industrial! James, irmão da inglesa, que era engenheiro e comerciante de ferros foi o responsável pelo desenho e fabricação da cerca de ferro que até hoje, encanta aos que visitam o Verde-Nasce. Pretendo surpreender os leitores com alguns detalhes da biografia de Emma que permaneceram um mistério por mais de 100 anos e deliciá-los com a narrativa de uma época fascinante!
Como vou tratar de muitas lembranças de vovó, o livro tem um tom regionalista muito forte: trata das nossas comidas, do nosso jeito de falar e até mesmo das nomenclaturas populares de mazelas como: “antójo”, “farnizim” e “espinhela caída”. Alguns clássicos contados de maneira peculiar por uma exímia contadora de histórias, (minha tataravó Cosma), trazem expressões que só os norteriograndenses conseguirão compreender, sem recorrer às notas de rodapé.
Escrever este livro me trouxe muitas experiências gratificantes: Através dele conheci um pouco melhor a adorável cidade de Ceará-Mirim. Um amigo sugeriu que eu passasse dois meses por lá, em uma casa de campo, escrevendo. Quem me dera! Pude somente ir algumas vezes, constatar que ela é tão encantadora, quanto o Verde Nasce.
Visitei-a com frequência através de dois blogs que contam sua história: este e o do Francisco Ferreira, o famoso “barão do Ceará-Mirim”. Meus agradecimentos pelas informações disponibilizadas por esses queridos heróis da memória cearamirinense.
Os ótimos livros “Oiteiro”, de Magdalena Antunes, “Imagens do Ceará-Mirim” e “A Rosa Verde”, de Nilo Pereira e “Villar & Companhia: apontamentos da história familiar”, de Alcides Francisco de Queiroz foram fontes de informação preciosas. Excelentes leituras que tive o privilégio de desfrutar, enquanto escrevia.
Os irmãos Herbert e Nadja Dantas, me receberam muito bem no engenho Verde Nasce e ajudaram com preciosas informações sobre o maquinário a vapor e o processo de produção de açúcar. Essa família é digna do mais sincero reconhecimento! A casa da moenda e todo o maquinário que é símbolo da Revolução industrial e do 2º ciclo da produção de açúcar no nordeste, estão muito bem conservados, com recursos próprios da família.
Os Dantas têm uma grande importância para a cidade e o vale do Ceará-Mirim. Penso que a divulgação de sua história de muito trabalho e amor pela terra é de suma importância para o município e se não recebeu a devida atenção nesta obra foi apenas por uma escolha afetiva da autora. Ao conversar com eles percebi que ainda há muito mais a se escrever sobre os que habitaram o Verde Nasce. Muito obrigada também ao solícito caseiro, Damião. Sempre gentil e cordial com os visitantes do engenho.
A Nadja que é a atual proprietária do terreno onde o túmulo fica localizado está trabalhando incansavelmente na sua restauração. Não é um trabalho fácil, nem barato; tendo em vista a sábia decisão dela de tentar manter a originalidade de uma construção que remonta ao século XIX. Ela buscou o apoio do IPHAN e os arquitetos da instituição já estiveram lá e se comprometeram a ajudá-la. A perspectiva é que em poucos meses o túmulo esteja pronto e aberto à visitação.
Compreender o passado é muito importante para a construção do futuro. É trabalhoso como fabricar açúcar, mas pode ser divertido como montar a cavalo e andar de locomotiva. Pode também ser gostoso como comer sequilho, beber caldo de cana e ter uma rapadura derretendo na boca. A motocicleta, o trem bala, os refrigerantes e a goma de mascar são produtos da nossa época, mas inspirações de uma outra, que precisamos conhecer!
O livro está em fase de correção ortográfica e ilustração, mas o lançamento ocorrerá no Verde Nasce daqui há alguns meses. Todos os leitores do blog estão convidados assim como você e sua família, é claro.
Abração,

Ana Cláudia Trigueiro de Lucena