sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

SERESTEIROS

Amiga Gracinha Barbalho B. Teixeira... texto maravilhoso. Veja essa fotinha para ilustrar sua crônica. Seresteiros do vale na década de 1970...Provavelmente em uma das serestas na época. Raimundinho, Zequinha, Vicente Barbosa, Gerson, meu pai, Jadson Queiroz Alves, meu Tio Manoel Fabrício...

SERESTEIROS 
Por Gracinha Barbalho B. Teixeira
Minhas lembranças de Ceará-Mirim, são de ordem cômica, saudosa, mérito, amizade e romântica. Revive-las em cada linha que delineio no papel ou no computador, traz-me alegria e felicidade e uma delas é a serenata; que coisa linda, emocionante, amorosa e inebriante era acordar pela madrugada e escutar os acordes de um violão plangente, um sax tenor, um bandolim, um cavaquinho, acompanhados que eram de um pandeiro e de uma bela e sonora voz. O tempo em sua caminhada sem paradas, vai deixando para trás coisas que à época tinham significados em seus mais diversos matizes tornando-as para os que vem depois, apenas como “coisas das antigas”, de gente velha em seu passado. Assim digo, que a beleza desse passado não está na juventude que envelheceu, até porque o envelhecimento faz parte da vida, nem tão pouco a ilusão do passado, mas na sensibilidade que atravessa o corpo e pousa na alma lá ficando para sempre. Os seresteiros da minha terra natal tem seu lugar ao sol em minhas lembranças de menina e adolescente; ainda as recordo de modo prazeroso, lembrando nomes ouvidos em minha casa ainda criança e que o tempo ainda não se encarregou de apagar de minha memória; outros muito bem lembrados pela convivência in loco e suas maviosas vozes em noites de serestas frente ao janelão da minha casa na Rua do Patu. E é com grande carinho que faço destaque especial a todos os seresteiros ceará-mirinenses, e os trago até vocês meus leitores, nominando cada um deles na sonoridade de seus cantares, ecoando noite a dentro. Inesquecíveis lembranças. Nelson Moreira, Manoel Sobral, Waldomiro, Zé Moreira, Luiz de Júlia, Cirineu Campos, José Lemos, Francisco Barbalho, Canindé Pegado, Neto Cerqueira, Nenêm de Chico padre, Parú, Chico Pindoba, Zé gago, João do banjo, Ernani Soares, Diassis Barbalho, Edmundo Sobral, Canindé Costa, Ademar, Vicente Barbosa, Amarildo, Tita, Damião, Adamar Trajano, Carlos Afonso, Robério Câmara, Daniel, Pipi, João de Pedro Gomes, Pedrinho Costa, Fernando Campos. Deixo nessa crônica minhas doces lembranças das serestas e dos seresteiros do passado e dos contemporâneos. Que se faça jus aos cantores das noites enluaradas ou em época mais recente iluminadas pelas luzes de mercúrio ou fluorescente, romanceando a cidade, as ruas, a frente das casas de suas amadas.
Acorda minha bela enamorada...
A lua vem surgindo cor de prata...
Relembra as madrugadas que lá vão...
É tarde eu já vou indo preciso ir embora, té amanhã...
Sonhei que eu era um dia um trovador...
Silencio na noite, está tudo calmo a cidade dorme...
Aqueles olhos verdes, translúcidos serenos...
Quero beijar-te as mãos minha querida...
Ela se enamorou de outro rapaz...
Bandeira branca amor, não posso mais...
Sei que é covardia um homem chorar...
Tudo acabado entre nós já não há mais nada...
Ave Maria rogai por nós os namorados...

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

A BOLA DE PITO

Querido Amigo Jorginho( Jardel Souto ) para que seu texto seja abastecido de boas memórias...a foto do nosso querido Zé Moreira de toca como relatado...
ESTÓRIAS DA HISTÓRIA DO CEARÁ-MIRIM
copiado do perfil da Acla Pedro Simões Neto
MINHAS ANOTAÇÕES – Jorge Xavier
A BOLA DE PITO
“Se esses boleiros de hoje metidos a craque tivessem jogado com as bolas do meu tempo, iam saber o que é bom pra tosse...” O desabafo é do ex-zagueiro Tonhão, titular de quase 10 anos do extinto Clube Atlético Potiguar, hoje falando dos seus 84 anos. Tonhão soltou sua opinião depois de ouvir no rádio que os jogadores estãorevoltados com a má qualidade da bola oficial do campeonato. Como ele vem ainda do tempo da bola de pito, o velho zagueiro do finado Atlético de João Machado. Tonhão diz não contar as vezes em que cabeceava e coincidia com a testa indo ao pito da bola. Era uma tremendacacetada na testa do jogador, lamentava-se o veterano raque rubro-negro. De fato, nas antigas fotos dos times potiguares, aparecem vários jogadores de defesa usando uma touca branca na cabeça, com isso amenizando a dor da pancada do pito.
Esse texto me traz a presença do nosso amigo Zé Moreira, que defendia o Centro Esportivo e Atlético, time de futebol, sendo um centrefor com especialidade em bater faltas, com o seu jeito macio e vagaroso, fazendo as redes balançar. No que se assemelha ao Tonhão é que usava uma touca branca, porém evitando ao máximo uma cabeceada, com medo do toque violento, que poderia causar uma pancada na testa, com possibilidade de ver estrelas...

 Time do Centro Esportivo e Atlético







Dentro das quatro linhas a performance dos jogadores trazia a galera a forte vibração lá no campo do Centro Esportivo, que sequer havia proteção entre a beira do campo e o gramado.
Era sempre um domingo festivo, com os torcedores marcando presença e as mulheres, em sua maioria, eram arredias ao futebol. Havia uma exceção relevante, a nossa querida Neusa Medeiros, ferrenha torcedora que lá estava gritando calorosamente, incentivando os nossos ídolos.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

LAVADEIRAS

Texto do facebook - Perfil da autora Gracinha Barbalho B. Teixeira
LAVADEIRAS
Houve uma determinada época em que a roupa suja, no bom sentido, era lavada fora de casa, melhor explicando, em rios e lagoas das cidades. Um dos locais mais procurados por essas trabalhadoras era o rio Ceará-Mirim, comumente chamado de Rio dos Homens, assim como as localidades de Capela, Maceió, Gravatá, Primavera e Lagoa Grande.
Era na segunda-feira que Dona Guiomar vinha pegar a roupa que minha mãe arrumava numa grande trouxa, incluindo duas barras de sabão Vencedor e dois tabletes de Anil Imperial. Ela chegava bem cedinho, tomava café, depois colocava a roupa na cabeça e descia ladeira abaixo até chegar ao seu destino, o rio ou lagoa onde de cócoras ensaboava e esfregava, colocando depois ao sol, em cima dos matos para quarar; depois de certo tempo recolhia, fazendo sempre o mesmo ritual: esfregava mais uma vez, lavava, enxaguava, colocava a água de anil na roupa branca e depois estendia ao sol. 


Olheiro Pedro II localizado por trás da estação de trem (demolido em 2017)
Nesse ínterim, caso tivesse levado, comia alguma coisa, e esperava que a roupa secasse, recolhendo-a, arrumando-a e fazendo uma nova trouxa limpa e cheirosa. Essas atividades duravam de dois a três dias, caso não chovesse. Quando a roupa já lavada chegava, minha mãe separava a que ia ser posta na goma e depois encaminhava para a casa de Águeda, a melhor engomadeira de Ceará-Mirim, diga-se, das pessoas que moravam lá em cima, na Rua do Patú; o restante se passava em casa mesmo com o “bendito” ferro movido a brasas, abanadas e assopros.
Creio que todas nós dessa geração presenciamos esses fatos e esse tipo de profissão tão árdua e cansativa. Além de dona Guiomar, também tivemos outra lavadeira, dona Zefinha, mãe de Neide e Dorinha. Ela também tinha um bebezinho, uma menina, que, muitas vezes, deixava lá em casa quando levava as duas maiores para poder lavar a roupa. Vida dura e sofrida dessas criaturas, muitas vezes maltratadas e humilhadas quando a roupa não chegava tão limpa como queria a “patroa”. A essas santas criaturas, o meu louvor, a minha gratidão e o meu respeito por tudo que tiveram que suportar de pessoas arrogantes que se achavam melhores que elas.
Coitadas dessas arrogantes, muitos anos depois vi as referidas patroas, lavando sua própria roupa. Seus tempos de bonança, para o uso de suas soberbas e luxo, não mais existiam. Assim é a vida, dia estamos muito bem, outros estamos à deriva. Quase nunca aprendemos as lições que a vida nos dá. Benditas sejam as lavadeiras de Ceará-Mirim, do passado e do presente, e de tantos outros lugares comuns.


Fonte: 
https://www.facebook.com/maria.barbalhob.teixeira?hc_ref=ARTfyXJ-d3C9YcRSPQ85zF1Pe-  PhXWxM_Hh9Hsn_WJHHMgjsLd9md9oQNLoEU3WU_P0&fref=nf&pnref=story